28 Jul 2020 - hHRS

Carnaval adiado dificulta recuperação de lojistas da 25 de Março


A pandemia conseguiu até adiar o Carnaval 2021, que deve ser realizado entre maio e julho do ano que vem, conforme anunciado na última sexta-feira (24/07) pela Prefeitura de São Paulo. 

O evento deste ano, que foi recorde de público e levou 15 milhões de foliões às ruas em mais de 600 blocos, por motivos óbvios não poderá acontecer até que a vacina anti-coronavírus seja finalmente liberada para uso. 

Mesmo favoráveis à medida por conta da segurança, lojas de artigos de Carnaval da 25 de Março, onde fantasias, adereços e itens para decoração de carros alegóricos representam até 45% das vendas anuais, agora se esforçam para reverter os prejuízos da quarentena. Ou, no mínimo, manter o caixa nos próximos meses.  

O Comercial Quatro Estações, há 30 anos na 25 de Março e especializada em artigos como contas e miçangas para bijuterias, penas, plumas e pedrarias para o Carnaval, enfrenta esse problema. 

Fornecedora das escolas de samba paulistanas e lojistas de artigos correlatos em todo o Brasil, a loja não pretende ampliar estoques até que haja definição da nova data do evento, diz o proprietário Leandro Reis. 

O adiamento, segundo ele, foi importante não só por conta da segurança, mas também devido à quarentena. Além de a loja ter fechado, os fornecedores também pararam, já que 80% dos produtos são importados. 

"Ficaria difícil atender a todos os pedidos, e não daria tempo de fazer nem os pilotos se o Carnaval fosse no início do ano", diz. "Também é melhor esperar a vacina: imagina 30 mil pessoas no Sambódromo sem?" 

Fechada, a loja teve uma quebra de faturamento de 90% antes da reabertura, segundo Reis, e sobreviveu sem demitir, apoiada nas vendas pelo site e no atendimento à distância pelo Whatsapp - prática que continua. 

Na expectativa de que os lojistas-clientes voltem a trabalhar e fazer pedidos, já que a flexibilização no estado de São Paulo tem sido desigual, Reis afirma acompanhar os esboços das escolas para o próximo Carnaval. 

"Muitas escolas seguraram as compras pela incerteza", afirma. Mas ele lembra que a partir de agosto deve surgir alguma definição para programar vendas, já que a Liga (das Escolas de Samba de São Paulo) vai anunciar a nova data do evento, e as escolas pretendem diminuir o número de componentes e de carros alegóricos.

Porém, há outros fatores a serem acompanhados, segundo o lojista, como a reabertura de alguns clientes que passaram tanto tempo fechados, dos quais se desconhece a atual saúde financeira. Ou, se a Prefeitura e a Rede Globo manterão verbas, já que também deve mudar a configuração de arquibancadas e camarotes. 

"No momento não dá para investir em nada, ainda há muitas interrogações", diz Reis. "Mas se conseguirmos fechar o ano com uma queda de só 10% ou 15%, já será muito bom", afirma. 

APOSTA NO HALLOWEEN 

A pandemia pegou em cheio a Festas & Fantasias, grupo com quatro lojas espalhadas na Ladeira Porto Geral, região da 25 de Março, especializada em vendas para o consumidor final e lojistas. Após um Carnaval "maravilhoso",  segundo o proprietário Pierre Sfeir, a partir da quarentena o problema começou a ficar sério. 

Primeiro, perderam duas das seis grandes épocas do ano para vender muita decoração, como Páscoa e Festas Juninas, afirma.

"Agora, a última sexta foi o pior dia dos nossos 44 anos: o governador cancelou o Revéillon, a Parada LGBT, ampliou a quarentena para 10 de agosto e adiou o Carnaval. Foi um desastre." 

O problema, segundo Sfeir, é que, além de as vendas terem despencado 95% enquanto as lojas ficaram paradas, desde a reabertura, em 10 de junho, a Festas & Fantasias não vendeu nem 5% do normal. 

Com duas das quatro unidades abertas, "só para falar que estamos aqui", afirma, ambas estão há 75 dias sem fechar pedidos nem receber orçamentos. "Fazíamos de 7 a 8 mil vendas diárias nas lojas. Agora, se emitimos 30, 40, 50 cupons fiscais por dia é muito."   

Agora, segundo o empresário, ficará difícil saber como vai ser o Carnaval, já que a pesquisa e as compras para os blocos começariam já em dezembro e continuariam em janeiro, fevereiro e março. "Mas neste ano o Brasil ficou fechado para festas e comemorações, e sem a vacina estamos num beco sem saída."

Sem e-commerce até então, "já que antes nunca precisamos", segundo Sfeir, pois o forte sempre foi a venda presencial, a Festas & Fantasias está finalizando o novo canal virtual para dar conta de "cadastrar tantos itens", diz. A estratégia deve ajudar a puxar as vendas, mas começará a funcionar a partir de agosto. 

Com 100 dos 160 funcionários fazendo vendas pelo whatsapp, que geralmente são fantasias para crianças ou velas de aniversário "já que está todo mundo em casa", a esperança do lojista é que, até setembro, o governo dê um sinal azul ou verde para a vida começar a voltar ao normal. 

 

Crescendo em média 10% ao ano, as vendas desse Carnaval foram um recorde histórico, e levaram a Festas & Fantasias a projetar alta de 20%, segundo Sfeir. Mas, de repente, tudo desabou, conforme diz:ficaram quatro, cinco meses sem faturamento, e agora a grande aposta no curto prazo é o Haloween.  

"Vendemos para consumidor final, atacado, prefeituras, clubes, teatros cinemas, televisão, decoração, vendemos maquiagem, perucas, itens de casamento, aniversário... Mas com a pandemia, tudo o que é alegria acabou: depois de 44 anos no comércio, estamos sem saber o dia de amanhã", lamenta o libanês. 

FOTOS: Arquivo pessoal e divulgação

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